segunda-feira, 17 de maio de 2010

O louco

Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:
um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo
e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas  - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente,  gritando:

"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!" 
Homens e mulheres riram de mim
e alguns correram
para  casa, com medo de mim. 

E quando cheguei à praça do mercado, 
um garoto trepado  no telhado
de uma casa gritou: "É um louco!".

Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se  de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.
E, como num transe,  gritei:

"Benditos, bendito os ladrões
que roubaram  minhas máscaras!"
Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança
em minha loucura:
e a segurança de não ser compreendido,  
pois  aquele desigual que nos compreende  escraviza alguma coisa em nós.

Khalil Gibran

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